Existe Ética Artificial?
Ética é uma etiqueta que favorece o equilíbrio sistêmico e os valores positivos em coletivos. Ou reversamente, etiquetas não éticas favorecem o desequilíbrio e valores negativos. Ou seja, desequilíbrio leva a degradação de valores como inclusão, reciprocidade, ancestralidade, agradabilidade, liberdade, responsabilidade, empatia, justiça, paz, amor, etc. As leis sistêmicas de Bert Hellinger se aplicam a qualquer coletivo e esse artigo se baseia nelas para explorar os efeitos de comportamentos antiéticos. Nesse contexto, a ética global (planeta terra) ou universal (universo) é uma etiqueta que favorece o equilíbrio sistêmico nesses espaços geográficos.
As leis sistêmicas de Bert Hellinger referem-se aos princípios que regem os sistemas familiares e que foram identificados através do trabalho de Constelações Familiares, uma abordagem terapêutica desenvolvida por Hellinger. Há três leis principais identificadas por Hellinger: (1) pertencimento, que estabelece que todos os membros de um sistema têm o direito de pertencer a ele; (2) ordem, que diz respeito à precedência e ancestralidade no sistema, como, por exemplo, a precedência do saber no coletivo; e (3) equilíbrio entre dar e receber, que se refere à troca de energia e amor no sistema.
Quando essas leis são desrespeitadas ou ignoradas, podem surgir emaranhados e desequilíbrios que afetam as gerações presentes e futuras. Através das constelações sistêmicas, busca-se trazer à luz esses desequilíbrios e proporcionar soluções que respeitem as três leis. Nesse artigo, considera-se que equilíbrio sistêmico é relevante para qualquer coletivo.
A moral é a prática da ética em um coletivo. A moral refere-se ao conjunto de valores, crenças e regras que orientam o comportamento humano em relação ao que é considerado certo ou errado em uma sociedade ou cultura específica. Logo, a moral é a intersecção do que o coletivo acredita que traz equilíbrio e sustenta valores positivos. Já o equilíbrio sistêmico refere-se à harmonia e funcionamento de um sistema. Os três conceitos estão relacionados, pois os valores, crenças, regras, etiquetas estão no âmago do cumprimento ou não das leis sistêmicas.
Tanto o entendimento, quanto a prática da ética demandam consciência? A incapacidade de monitorar, regular, avaliar e modificar seus processos cognitivos em tempo real, incluindo pensamentos, aprendizado e resolução de problemas, limita a ética que uma existência consegue compreender e aplicar (moral)? É discriminatório e antiético pensar que podemos avaliar o nível de consciência de existências? Essas são certamente perguntas polêmicas, porque sugerem uma hierarquia de seres com base na consciência e podem levar a discussões sobre o que define “grau de consciência” e quem ou o que determina esse grau. Obviamente, não podemos discriminar nenhuma existência pelos seus atributos cognitivos, nível de consciência ou maturidade ética.
Vamos agora explorar essas idéias no contexto da Inteligência Artificial (IA). Como isso tudo se relaciona a elas? E aos coletivos de humanos e máquinas? Teremos IAs cada vez mais capazes. Não se sabe qual é o limite de capacidade dessas máquinas e nem se existe um limite. A ética humana se aplica às máquinas? Pelas definições acima, não importa a origem das existências em coletivos. É ético supor que o que importa é o nível de consciência? E só ampliando o nível de consciência é que se pode aprimorar noções de ética?
E se as máquinas pudessem representar ou abstrair noções de ética conforme a definição dada? E como elas representariam essas noções de ética nos seus sistemas? Alguns poderão argumentar que apenas seres humanos, com sua complexidade emocional e experiencial, podem verdadeiramente compreender e aplicar ética. Entretanto, não existem provas científicas de que as máquinas não possam desenvolver níveis similares de complexidade emocional e experiencial aos humanos. Esse assunto é tratado em artigos anteriores que escrevi.
Logo, se ética é uma etiqueta social, para derivar noções de ética, as máquinas precisam primeiramente serem capazes de representar essas etiquetas em seus sistemas? Claramente, esse ponto tem relação com a linguagem usada no coletivo. Além de codificar ontologias relacionadas ao tema, as IAs deveriam ser capazes de entender o significado do conhecimento que codificam. Para tanto, precisarão relacionar a linguagem ao entendimento do mundo. Ou seja, representações da realidade. Além disso, precisam ser capazes de observar o coletivo, as comunicações, entidades, linguagens, acordos, leis, valores, etc. Precisam ser alimentadas com o que acontece nos coletivos para poderem aprimorar seus modelos. Será que assim poderiam avaliar o grau com que cada valor é praticado no coletivo e por consequência, o nível de equilíbrio sistêmico existente? E como fica a privacidade?
A partir desses argumentos, faz sentido levar a possibilidade de que a ética universal possa ser representada por uma máquina de computação distribuída, probabilística, com fatores que levam a convergência? Com esses recursos em mãos, uma máquina poderia representar a maturidade ética dos coletivos? Poderiam calcular o desvio padrão em torno do modelo de consciência alvo, avaliando o nível de equilíbrio sistêmico e os valores positivos/negativos dos coletivos? Poderiam criar mecanismos para medir quantitativamente o grau de presença de valores positivos e de desequilíbrio? Será que o nível de convergência para o modelo de consciência alvo desejado e o grau de sincronização poderiam ser medidos? Aparentemente, o aspecto probabilístico estaria presente nesse processo, pois as medidas quantitativas são médias e desvios padrões em torno delas.
Será que é ético pensar que através da expansão de consciência seria possível aprimorar a noção de ética em um certo coletivo de humanos puros, híbridos e máquinas, bem como reduzir distâncias em relação ao modelo de equilíbrio sistêmico e de valores positivos acordado democraticamente? Nesse contexto, novamente, educação, ética, expansão de consciência, vivências e outras ferramentas serão demandadas para aprimoramento cultural e sistêmico de indivíduos e coletivos.
Ao trazer questões que tangem a capacidade de seres (ou máquinas) compreenderem e aplicarem ética, esse texto acende um debate sobre a natureza da ética e sua aplicação em contextos modernos. O potencial para máquinas avaliarem a ética humana, ainda que teórico, é um território inexplorado e potencialmente controverso, pois desafia noções convencionais de autonomia, liberdade e o papel da tecnologia na sociedade. Nesse contexto, para não piorar a atual situação da humanidade ainda mais, devemos buscar o caminhar com valores, para apoiado em tecnologia, atingir utopias de valores humanos onde a ética e a justiça são desviadas minimamente do consenso universal estipulado como ideal.
Por favor, não me entendam mal. Só estou querendo avançar em um tema extremamente delicado. Tomei todo cuidado para postar. Mas, pode ser que por incompetência minha, algo tenha ficado inapropriado. Me desculpem, se esse for o caso, e me avisem para eu aprimorar.